Entrevistas

Entrevista com Janessa Oliveira

01 maio 2023

Ouvindo os parceiros: Women and Global Health

Apresentação

Iniciando sua jornada em 2015 como uma Organização sem Fins Lucrativos, hoje a Women in Global Health representa um movimento global de atuação e liderança para a promoção da equidade de gênero na saúde. Atualmente, a organização conta com 47 capítulos em 43 países, cerca de 5.500 membros e 100.000 apoiadores em mais de 100 países, estabelecendo uma ampla rede de aliados em prol do fortalecimento da liderança igualitária de gênero na saúde global. Para este boletim, conversamos com Janessa Oliveira, doutora em Saúde Pública, que atualmente integra a coordenação do capítulo brasileiro da Women in Global Health.

Hub LAC: A WGH possui ações tanto em advocacy, como enquanto plataforma para diferentes iniciativas e parcerias. Nesse sentido, você poderia nos dar um panorama concreto de iniciativas que vocês desenvolvem?

J.O: A WGH vem atuando há oito anos através de diversas iniciativas para promover a igualdade de gênero na área da saúde. A área de advocacy e articulação com organizações com influência em cada território se mostrou uma parte crucial da nossa atuação. Dessa forma, os capítulos regionais e nacionais são estimulados a buscar alianças e contatos para implementar ações nessas vertentes que possam gerar mudanças a nível local. Além disso, a organização promove eventos que mostram experiências bem-sucedidas em outros países, para que outros capítulos possam se inspirar. Ademais, a WGH compreende a relevância em participar de eventos e conferências a nível global, como forma de incentivar a representatividade das mulheres nestes espaços, participando dos debates para promover a redução das desigualdades de gênero na área da saúde. 

2. Quais são as principais evidências que apoiam a compreensão de vocês sobre a natureza e a magnitude dos desafios na igualdade de gênero na saúde? 

J.O: Atualmente nos apoiamos em dados secundários fornecidos principalmente pelo CNES – Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde, e estamos trabalhando em estabelecer alianças locais para coletar e compreender melhor o perfil demográfico das profissionais de saúde no Brasil. Para investigar a desigualdade de remuneração, estamos em contato com os conselhos profissionais para obter dados assertivos. Para gerar conhecimento sobre questões relacionadas a violências, o capítulo brasileiro investirá na busca de dados com os conselhos profissionais e na aplicação de um inquérito.  Para maximizar a adesão a esta pesquisa, visto que é um tema sensível, estamos formando alianças para disseminar o questionário em todo o Brasil e obter uma amostra mais representativa.

Hub LAC: 3. A WGH hoje conta com uma ampla rede global, estendida pelos cinco continentes. Como são engendradas estas iniciativas, considerando as particularidades de cada região ou mesmo entre os países?

J.O: A Women in Global Health conta com uma gestão que busca criar mecanismos de colaboração regional e global entre os capítulos. Para tal, existem diversos Hubs regionais onde os capítulos podem colaborar e alinhar prioridades, organizar atividades conjuntas, entre outros. Também existem reuniões globais mensais em que os capítulos engajam, compartilham suas atualizações e discutem diversos temas atuais no escopo do advocacy para a saúde global.

Para promover a troca de experiências e ideias, a WGH global também busca organizar eventos e atividades com o intuito de mostrar como diferentes temas se dão nas diversas regiões. Um exemplo desse tipo de atividade foi a organização de quatro Assembléias regionais (Townhalls) sobre o tema de Exploração, abuso e assédio sexual (SEAH) na área da saúde, para o qual foram convidadas representações de governos, ONGs e ativistas para discutir questões propostas pela WGH sobre assédio e violência na saúde global. 

Durante esses eventos (que foram realizados para as regiões da África Oriental e Meridional, Ásia, América Latina e Caribe, África Francófona), iniciativas interessantes foram apresentadas, ampliando a troca de ideias e experiências entre representantes desses setores em diversos países. O capítulo brasileiro foi um dos co-sponsors do evento para a região das Américas e o Caribe. Vejam aqui os resultados dos eventos.

Outra iniciativa importante na qual estamos trabalhando, está mais alinhada com a nova proposta da WGH, lançada no final do ano passado, que tem foco na Cobertura Universal de Saúde. Recebemos financiamento para projetos nessa linha e nossa primeira iniciativa será trabalhar com podcasts. Acreditamos que os podcasts são uma excelente ferramenta para disseminar conteúdos de qualidade em áreas remotas, onde a cobertura de internet é limitada, como é o caso da região amazônica. Queremos difundir conteúdos que promovam a liderança feminina e melhorem a qualidade da assistência à saúde nessas áreas.