Entrevistas

Uso de evidências para fortalecer a atenção à Saúde na Colômbia

09 jul 2024

Esta entrevista faz parte da iniciativa “Resonating Voices: Ouvindo as Vozes dos Usuários de Evidências na Região da América Latina e Caribe”. O projeto é um esforço colaborativo com o Hub LAC atuando como implementador e a Overton como financiadora. Nesta conversa, o Hub LAC dialoga com John Edison, da Colômbia.

John Edison é Administrador de Saúde e Advogado, com Mestrado em Epidemiologia. Atualmente, ele atua como Assessor do Vice-Ministro de Proteção Social no Ministério da Saúde e Proteção Social da Colômbia.


A sustentabilidade financeira do sistema de saúde é uma questão urgente na qual temos trabalhado. Em particular, problemas relacionados à produção de novas tecnologias de saúde. Isso tem sido um problema recorrente não apenas no nosso sistema, mas em todo o mundo, pois levou a um rápido aumento nos custos nos últimos anos, causando preocupações significativas sobre os recursos.

Outra questão está relacionada à implementação de redes de serviços abrangentes e integradas e estratégias de atenção primária à saúde, envolvendo especialmente o nível primário de atendimento.

Por fim, a principal atividade que estou apoiando é atualmente o projeto de reforma do Sistema Geral de Segurança Social. É um projeto de reforma explicitamente liderado por este Vice-Ministério. Estamos gerando tudo relacionado à proposta deste projeto e todo o progresso sendo atualmente feito no Congresso da República.

A evidência é crucial. A maioria de nós envolvidos nesse processo de reforma vem do meio acadêmico, e cada decisão e artigo sendo trabalhados e acordados são baseados na melhor evidência disponível.

Em relação às estratégias de atenção primária, especificamente no que diz respeito às equipes básicas de saúde e à redução dos gastos com saúde, diferentes departamentos do Ministério têm conduzido revisões de literatura. Especificamente, o departamento de Promoção e Prevenção (PYP) tem realizado exercícios focados em definir quais profissionais devem compor essas equipes básicas de saúde e estimar os gastos com essas estratégias, com base no que foi feito em outros sistemas de saúde. Da mesma forma, as revisões de literatura têm se concentrado nas atividades que poderiam ser realizadas em termos de cuidado extramural.

Também criamos espaços de trabalho colaborativos para definir questões na estrutura PICO (Paciente, Intervenção, Comparação e Resultado) e conduzir uma revisão da literatura. Particularmente, um mapa de evidências foi criado com o apoio da BIREME (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde) e da OPS. Isso levou a uma síntese de evidências que orientou a estimativa de gastos mencionada para as equipes de APS (Atenção Primária à Saúde) e agora é usada como suporte para justificar a maioria dos pedidos feitos por senadores, congressistas e a sociedade civil, que exigem esse tipo de evidência.

Em relação às parcerias, temos acordos com universidades como a Universidade de Antioquia, a Universidade Nacional, a Universidade dos Andes e a Universidade Javeriana.

Existem outros tipos de acordos de governos anteriores, como o acordo com a Health Metrics para realizar estudos sobre a carga econômica das doenças.

Em termos de cooperação internacional, novamente, temos acordos com a OPS, USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), OIM (Organização Internacional para as Migrações) e a Agência Francesa de Desenvolvimento, entre outros, que incluem centros de pesquisa e instituições geradoras de evidências.

Barreiras:

A principal barreira é o tempo. Frequentemente, recebemos solicitações de evidências em um curto período, durante o qual devemos reunir as melhores evidências disponíveis e apoiar uma decisão que já foi tomada ou está prestes a ser tomada.

Outra barreira é a falta de treinamento ou educação contínua em termos de novas técnicas e estratégias de pesquisa.

A definição de competências e o manual de funções também podem se tornar uma barreira, pois, às vezes, os tempos ou o perfil específico para a realização de atividades relacionadas à produção e uso de evidências não estão definidos.

A estrutura atual do sistema, criada há mais de 30 anos, talvez não tenha sido planejada particularmente com a necessidade urgente e imediata de incluir grupos geradores de evidências dentro das instituições públicas. Isso tem levado muitas instituições a passarem por transformações.

Por fim, os recursos econômicos disponíveis para cada entidade podem ser uma barreira. Os orçamentos são planejados para funções específicas e, raramente, incluem funções específicas para questões como a revisão de evidências. Não há um orçamento explícito para isso, nem pessoas dedicadas exclusivamente a essa função.

Facilitadores:

O dinamismo e a modernização do Estado, onde buscamos revisar bem essas funções e esperamos que possam haver funções específicas para apoiar o uso de evidências. Quando as instituições têm acesso às melhores evidências disponíveis, elas se transformam.

O apoio de organizações de cooperação internacional, acordos desenvolvidos com centros de estudos, centros de pesquisa e instituições dedicadas a trabalhar com evidências.

A precisão das evidências é um facilitador muito importante, pois todo ato administrativo está sujeito ao escrutínio público. Nesse sentido, as evidências são um mecanismo de apoio e defesa muito importante que temos contra os órgãos de fiscalização.

A facilidade de acesso às evidências também é um facilitador importante. A literatura científica é mais acessível do que há alguns anos.

Outro facilitador é que atualmente temos o Ministério da Ciência, que também faz parte dos órgãos de tomada de decisão.

Por fim, graças aos acordos com universidades e programas acadêmicos, foram criadas oportunidades para que certos funcionários recebam treinamento, gerando benefícios em termos de capacitação.

Para os pesquisadores, o conselho é estar muito consciente da realidade política do sistema. Diferentes temas de pesquisa surgem daí para orientar a tomada de decisões. Frequentemente, os pesquisadores se concentram apenas no contexto que podem discernir nos centros de estudo e raramente conhecem a realidade política e contextual do sistema como um todo. Se conseguirmos inserir a academia nesses cenários políticos, acredito que uma sinergia importante pode ser gerada.

E para os envolvidos na tomada de decisões, o principal conselho que eu daria é que, em termos práticos, as evidências reduzem a incerteza das decisões, e isso pode contribuir para gerar políticas públicas precisas que se adequem à realidade da população. Sempre temos órgãos de fiscalização observando e prestando atenção às decisões que tomamos, e as evidências se tornam um mecanismo probatório para defender a decisão tomada. Tudo isso ajuda a garantir que o sucesso de qualquer decisão possa se traduzir melhor no âmbito da política pública.


Contato do entrevistado: edison.betancur@udea.edu.co