O papel das evidências científicas na tomada de decisões sobre políticas de regulação alimentar e nutricional no Chile.

Esta entrevista faz parte da série “Voices of Evidence Users”, que oferece perspectivas valiosas de pessoas que usam evidências na tomada de decisões – uma colaboração entre Hub LAC e On Think Tanks. Nesta conversa, o HubLAC entrevista Cristian Cofré sobre o papel e os mecanismos regulatórios dos alimentos no Chile relacionados às evidências científicas.

Cristian Cofré Sasso é assessor técnico do Ministério da Saúde do Chile. Especialista em Políticas Públicas de Saúde e Nutrição/Consultor em políticas públicas e regulação em alimentação e nutrição. Faz parte dos comités consultivos ministeriais sobre impostos alimentares, regulamentação sobre rotulagem e publicidade de bebidas alcoólicas, entre outros. É membro da Comissão Consultiva do Regulamento Sanitário de Alimentos; ele também é co-coordenador do Comitê Nacional do Codex Alimentarius sobre Rotulagem de Alimentos e Coordenador do Comitê Nacional do Codex sobre Nutrição e Alimentos para Usos Dietéticos Especiais.


1. Quais são as questões ou problemas prioritários na sua organização?

Há muitas perguntas a serem feitas porque há muitas políticas sendo desenvolvidas. Especificamente no meu departamento de alimentação e nutrição, um dos temas em que mais dedicamos atualmente (embora não o único) são os relacionados com políticas regulatórias. Tudo o que esteja associado à evidência disponível sobre que tipo de políticas existem em relação à regulação alimentar e nutricional, especificamente nos aspectos relacionados com a rotulagem e publicidade dos alimentos, a fim de fornecer informação ao consumidor.

2. Qual o papel que as evidências científicas desempenharam na abordagem destes problemas ou questões prioritárias, e que parcerias ou sinergias apoiaram ou permitiram este processo?

Há um trabalho em andamento sobre a regulamentação da informação nutricional em restaurantes fast food. Seu objetivo é saber o melhor local onde deve estar essa informação nutricional ou rotulagem. O trabalho tem sido feito com uma unidade do Ministério da Saúde, a Unidade de Política de Saúde Informada por Evidências (UPSIE).

Esta unidade, por sua vez, associou-se a outros intervenientes, como a Universidade Católica do Chile, para desenvolver revisões sistemáticas da literatura e diálogos com os cidadãos.

Precisamente neste último caso, a revisão da literatura e as propostas regulatórias são socializadas para obter a opinião dos cidadãos e dos atores-chave para a implementação de futuras ações neste sentido. Essas informações são processadas para gerar um relatório que apoiará a tomada de decisão para desenhar a política regulatória para fast food. No Chile existe uma iniciativa pioneira no mundo, a rotulagem frontal e o objetivo agora é fazer o mesmo com fast food. Da mesma forma, temos a Política Nacional de Alimentação e Nutrição, cujas linhas de ação também são baseadas em evidências, são experiências de políticas informadas por evidências.

Quanto à frequência das solicitações de evidências, esta não está previamente definida, mas depende das prioridades estabelecidas pela autoridade de saúde relativamente a um assunto de interesse. Na área da nutrição, por exemplo, há uma questão muito relevante: o aumento da obesidade na população infantil e em geral. Isto significa que a solicitação de evidências para a construção e desenho de políticas para enfrentar este problema de saúde tem aumentado nos últimos anos.

3. Quais são os principais desafios e oportunidades que identifica para institucionalizar e incorporar sistematicamente evidências no processo de tomada de decisão?

Os principais desafios que enfrentamos são a falta de recursos humanos especializados, que dediquem o tempo disponível para a tomada de decisões baseadas em evidências. Há uma grande demanda de dúvidas, o que implica priorizar muitas delas devido à ausência de recursos humanos. Este processo leva tempo e pode levar a atrasos na geração de evidências. Por outro lado, as chances de encontrar evidências sobre políticas públicas inovadoras são baixas devido à escassez de informações fundamentadas. Se se trata de formulação de políticas públicas, não apenas os técnicos devem estar envolvidos no uso de evidências; mas também os decisores devem estar conscientes de que as políticas precisam de ser informadas por evidências.

Do lado das oportunidades, as organizações internacionais incentivam o Estado a produzir políticas baseadas em evidências. Isto é feito através de organizações como a ONU, a OMS/OPAS, a FAO e o meio académico, entre outras.

4. Que conselho você daria aos pesquisadores e tomadores de decisão que desejam melhorar o impacto e o uso das evidências científicas nas decisões políticas?

O conselho aos pesquisadores é mostrar paciência para que seu trabalho se reflita nas políticas públicas. Isso dependerá de muitos fatores e prioridades, mas se você for paciente, será alcançado de qualquer maneira. O impacto não será de um mês para o outro ou de um ano para o outro; a definição de uma política levará mais tempo do que isso. Os investigadores devem aproveitar as oportunidades contextuais para o desenvolvimento de políticas baseadas em evidências. É necessário que haja uma ligação estreita entre a investigação e as políticas públicas.

O conselho aos decisores é que as suas ações terão impacto nas pessoas que neles depositaram a sua confiança; estes podem ser os seus pares ou decisores seniores, mas mais importantes são as pessoas que vivem no território. Os decisores devem seguir os princípios de eficácia e eficiência na aplicação de políticas baseadas em evidências. Estas políticas devem beneficiar a sociedade e resolver os problemas que ocorrem. Políticas baseadas em evidências são importantes para qualquer área, especialmente em áreas sensíveis como a saúde.

Hub LAC e Instituto Veredas lançam estudo com mapeamento de experiências em políticas penais de países da Europa, Ásia e Américas

O Hub de Evidências da América Latina e do Caribe (Hub LAC) e o Instituto Veredas realizaram levantamento sobre a estruturação das políticas penais em 14 países localizados na Europa, Ásia e Américas. A publicação “Mapeamento de Experiências Internacionais em Políticas Penais” está disponível a partir desta quinta (9/11) no site das instituições. O trabalho visa contribuir para a atuação das(os) servidoras(es) penais no Brasil, focado nas carreiras e profissões que compõem os serviços da política penal.

A área, abordada pelos levantamentos e análises da publicação, inclui ações de custódia nos estabelecimentos prisionais para pessoas em cumprimento de medida no regime fechado, e responsabilização penal em liberdade para as pessoas em cumprimento de medida no regime aberto.

Segundo Walkiria Zambrzycki, pesquisadora e coordenadora de projetos do Veredas. “É uma publicação inédita e com caráter global, não há outro documento parecido no mundo. Levantamos evidências em 14 países, mas a gente não pode fazer generalizações do que serve para todos. Precisamos respeitar as particularidades e extrair o que pode ser interessante para o nosso contexto. Queremos que a gestão pública possa utilizar esse material para tomar as decisões na área de Direitos Humanos, Justiça Penal e Segurança Pública”.  

Países analisados

O Mapeamento de Experiências Internacionais em Políticas Penais traz dados da França, Finlândia, Itália, Noruega, Portugal, África do Sul, Canadá, Estados Unidos da América, Costa Rica, República Dominicana, Argentina, Bolívia, Chile e Colômbia. A escolha destes países se baseou, preliminarmente, no porte populacional e na respectiva taxa de aprisionamento dos últimos anos, além de outros fatores que se aproximam do caso brasileiro, como a similaridade do contexto histórico e social e os serviços de medidas de responsabilização em liberdade.

A revisão rápida está organizada em seis áreas temáticas: Execução de Penas e Medidas de Responsabilização; Arquitetura Institucional das Políticas Penais; Políticas Intersetoriais para Pessoas Privadas de Liberdade; Carreiras de Profissionais, Funcionárias(os) e Servidoras(es); e Saúde Mental das(os) profissionais nas Políticas Penais.

Alguns achados importantes

  • Em 11 dos 14 países pesquisados, a atribuição do sistema prisional compete ao Ministério da Justiça, com a exceção de 3 países nas Américas: Bolívia e Canadá (competência subordinada à Segurança Pública); e República Dominicana: competência da Procuradoria-Geral da República.
  • Em 13 dos 14 países pesquisados, a carreira ligada à custódia não está dentro da estrutura de servidoras(es) da segurança pública ou forças armadas;
  • Para todos os países pesquisados, há penas e sanções cumpridas fora dos estabelecimentos prisionais. Diferenciam-se, portanto, os equipamentos públicos e estruturação das carreiras das(os) servidoras(es) nas políticas penais:

Acesse a publicação na íntegra

Ascom Veredas e Hub LAC

Mapeamento de Experiências Internacionais em Políticas Penais

Autores: Hub LAC e Instituto Veredas

carlos castaneda

Sinergia entre academia, cidadãos e tomadores de decisão para a promoção e o uso de evidências na Colômbia

Esta entrevista faz parte da série “Voices of Evidence Users”, que oferece perspectivas valiosas de pessoas que usam evidências na tomada de decisão – uma colaboração entre Hub LAC e On Think Tanks. Nesta conversa, o HubLAC entrevista Carlos Castaneda sobre o papel e os mecanismos de uso e geração de evidências na Colômbia.

Carlos é economista pela Universidade de Antioquia, possui mestrado em economia pela Universidade de Los Andes e mestrado em Políticas Públicas e Sociais pela Universidade Pompeu Fabra. Atualmente é Diretor de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas do DNP – Departamento Nacional de Planejamento da Colômbia.


  1. Quais são as questões ou problemas prioritários na sua organização?

As questões prioritárias são a avaliação de programas estratégicos vinculados ao Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) do país. Precisamente, uma das responsabilidades do Departamento Nacional de Planeamento (DNP) é elaborar este plano em conjunto com o Ministério das Finanças e os restantes setores do Governo Nacional.

Precisamente, o DNP definiu cinco linhas estratégicas e duas linhas transversais nas quais acreditamos que o país deve apostar para o desenvolvimento a médio e longo prazo, estas linhas são: 1) Gestão do território em torno da água com justiça ambiental: alterações climáticas, 2) eixo de segurança humana e justiça social, 3) direito humano à alimentação (transformação do sector agrícola, produção alimentar e segurança alimentar), 4) transformação produtiva, internacionalização e ação climática e 5) convergência regional. Tudo isto está enquadrado em dois temas transversais: paz abrangente e estabilidade macroeconómica. Também trabalhamos no âmbito da Agenda 2030 dos ODS.

  1. Qual o papel que as evidências científicas desempenharam na abordagem destes problemas ou questões prioritárias, e que parcerias ou sinergias apoiaram ou permitiram este processo?

Um exemplo concreto do uso de evidências tem sido o uso de mapas de lacunas de evidências para identificar quais ações funcionaram no mundo em relação aos programas de renda cidadã. Menciono isto porque a Colômbia pretende migrar de transferências condicionais de dinheiro para estratégias de renda incondicional. Esta é uma das formas de disponibilizar evidências aos decisores em programas futuros.

Outro exemplo é o programa “Mi casa ya”, um programa habitacional que subsidiava pessoas de classe média e média baixa para que pudessem obter habitação. Fizemos uma avaliação de impacto há cerca de dois anos e os resultados dessa avaliação permitiram ao Ministério da Habitação tomar decisões que permitiram a reestruturação do programa.

Quanto aos tipos de evidências, estas podem ser diferentes dependendo do grau de maturidade dos programas. O que fazemos é tentar ser inovadores na forma como fornecemos ou transmitimos evidências aos decisores, por vezes um mapa de evidências é mais útil, por vezes um infográfico, vídeo entre outros.

Toda a evidência que geramos é levada aos órgãos de decisão, aos conselhos de ministros e aos comitês que gerem alocação de orçamento a médio prazo, onde é definido o orçamento alocado a cada setor.

Trabalhamos em várias etapas para identificar onde as evidências são necessárias e contamos, como mencionado acima, com as diferentes agências dos ministérios e com empresas de consultoria e instituições nacionais como Fedesarrollo, think tanks, e a Universidade Nacional e Javeriana da Colômbia. Também fazemos parcerias com agências internacionais como The Global Evaluation Initiative, Universidade de Berkeley, Universidade de Toronto e professores associados à Universidade de Chicago.

Relativamente ao envolvimento da perspetiva dos cidadãos, temos as enquetes de percepção cidadã, que são realizadas anualmente, em que procuramos conhecer as perspectivas, outra fonte de evidências para guiar as ofertas do governo. Isso nos permite monitorar as lacunas entre o que o governo está oferecendo e o que a população está percebendo.

Tudo o que geramos é público, os cidadãos podem baixar relatórios, dados, pesquisas, etc., para replicar exercícios, ou aprofundar os resultados. Queremos que os cidadãos se aproximem e que o governo participe também.

  1. Quais são os principais desafios e oportunidades que identifica para institucionalizar e incorporar sistematicamente evidências no processo de tomada de decisão?

Entre os desafios existentes, descobrimos que para desenvolver avaliações rigorosas precisaríamos de mais tempo do que realmente temos. Para acompanhar esse processo, procuramos ter um banco de dados para realizar os exercícios com rapidez. Nesse sentido, se não houver pesquisas acadêmicas, incorporamos ferramentas mais rápidas como o machine learning, que permite a geração de evidências em tempo hábil.

Outro desafio é que vimos que a utilização de provas é anedótica, uma vez que não existe uma medição sistemática da forma como são utilizadas. Estamos desenvolvendo um índice de uso de avaliação que nos permitirá medir como e quando as evidências que estamos gerando estão sendo utilizadas. Isto nos permite ver quando as recomendações são implementadas e como as mudanças estão ocorrendo.

Por outro lado, nem sempre existe vontade política entre os decisores; em outras palavras, as diretrizes de um programa podem não exigir que ele seja avaliado.

Outra grande preocupação é encontrar a melhor forma de comunicar os resultados das avaliações porque os documentos são muitas vezes demasiadamente extensos e correm o risco de não serem lidos. As evidências já demonstram, por diversas plataformas, que para atrair o público em geral é necessário contar com informações curtas e chamativas.

Entre as oportunidades, também contamos com ferramentas robustas e com qualidade técnica para informar e tomar decisões, que compartilhamos com países como Costa Rica e Peru para nos mantermos atualizados com o que está acontecendo nos países vizinhos.

E, finalmente, na Colômbia temos o CONPES 4083 de 2022 para o fortalecimento do uso e institucionalização de avaliações para a tomada de decisões. Isto nos dá o arcabouço legal que nos obriga a implementar todas as ações relacionadas às evidências e oferece uma visão geral do uso das evidências no país juntamente com ações de melhoria para consolidar nossa organização (SINERGIA).

  1. Que conselho você daria aos pesquisadores e tomadores de decisão que desejam melhorar o impacto e o uso das evidências científicas nas decisões políticas?

O conselho aos pesquisadores consiste em facilitar avaliações para que as recomendações políticas possam ser utilizadas. É preciso utilizar mecanismos para comunicar o que há de mais relevante. Por exemplo, aconselha-se uma matriz para a utilização de recomendações para incentivar a apresentação dos resultados de uma forma clara e simples aos especialistas.

O conselho aos decisores é que compreendam melhor quais as avaliações e os diferentes tipos de evidências que estão sendo reportados. Por exemplo, 90% dos decisores afirmam frequentemente que o que necessitam é de uma avaliação de impacto e quando clarificamos em que consiste a avaliação, percebem que não precisam deste tipo de provas, mas de outros tipos de provas. Os decisores precisam estar mais bem informados sobre o método de avaliação que o seu programa exige, a fim de chegarem a um acordo comum com os responsáveis ​​pela pesquisa. Por fim, é necessário mencionar a necessidade de estabelecer sinergias entre pesquisadores e decisores para discutir e analisar os diferentes tipos de evidências.


Contato:

cacastaneda@dnp.gov.co

Samara Castro

Fortalecendo a democracia brasileira com políticas públicas digitais

Essa entrevista faz parte da série “Vozes de Usuários de Evidências”, que oferece valiosas perspectivas de pessoas que utilizam evidências na tomada de decisões – uma colaboração entre o Hub LAC e a On think tanks.

Samara Castro Nesta conversa, o Hub LAC falou com Samara Mariana de Castro, advogada com trajetória no campo do direito marcada pela atuação nas áreas de Direito Eleitoral e Partidário, Direito Digital, Privacidade e Proteção de Dados.

Em 2023, Samara assumiu a Diretoria do  Departamento de Promoção da Liberdade de Expressão da nova Secretaria de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (SECOM), onde tem a oportunidade de construir um ambiente de pioneirismo para informar com as melhores evidências disponíveis as políticas públicas digitais no Brasil. Nesta entrevista, ela discute avanços e desafios que ela e sua equipe têm enfrentado nesta trajetória.


Como tem se dado sua atuação e quais são os problemas prioritários da sua gestão enquanto diretora do Departamento de Promoção da Liberdade de Expressão da Secretaria de políticas digitais?

Na minha direção, lidamos com diversos desafios. Isso inclui apoiar a sustentabilidade do jornalismo em meio às mudanças na publicidade, regulamentar os serviços digitais enfrentando a desinformação e estimulando valores sólidos de liberdade de expressão para a era digital. Além disso, o departamento atua em um ambiente de pioneirismo, onde muitos problemas ainda não têm soluções evidentes. Somos uma Secretaria inédita e temos o desafio de estarmos em um ministério palaciano, ou seja, que não tem carreira ou servidores próprios. Nesse sentido, não trabalhamos com uma memória como outros ministérios, estamos criando nossa própria história agora.

A SECOM anterior estava no Ministério das Comunicações, não houve transição em áreas críticas, então estamos reelaborando uma nova estrutura. Nosso trabalho hoje também se contrapõe aos processos criados pelo governo anterior, que trabalhava em uma lógica de desinformação e desconfiança contra adversários e outros poderes, no arranjo que ficou conhecido na mídia como o ‘gabinete do ódio’. Nossos desafios não são específicos à realidade brasileira.

São desafios que governos democráticos pelo mundo todo estão enfrentando concomitantemente, sendo os assuntos novos e emergentes.

Qual o papel das evidências para resolver esses problemas prioritários? Como você coopera e busca apoio com centros de pesquisa e redes no governo e na sociedade civil para se informar melhor dos desafios e soluções a seu alcance?

As evidências desempenham um papel crucial na tomada de decisões. O governo depende delas para convencer legisladores em questões regulatórias, usando principalmente relatórios executivos, contendo pesquisas quantitativas e qualitativas. A busca ativa dessas evidências é feita em parceria com organizações da sociedade civil, academia e indústria, além da minha rede de contatos pessoais e de canais diretos com os poderes legislativo e judiciário. T

Também buscamos experiências internacionais, principalmente latinoamericanas e de outros contextos globais para criar políticas de publicidade institucional preocupadas em garantir um ambiente informacional íntegro e confiável, que não financie direta ou indiretamente conteúdos ilegais, perigosos ou desinformativos, garantindo isonomia e direitos.

Para isso, uma nova secretaria foi criada na SECOM, a Secretaria de Análise, Estratégia e Articulação (SEART), pensada para apoiar a tomada de decisões informada por evidências no que concerne ao tema das políticas digitais. Podemos dizer que também atuamos como um Hub de evidências para outros ministérios, coordenando ações interministeriais em questões específicas que necessitem da nossa colaboração.

Um exemplo prático recente de atuação da nossa equipe foi a criação de um plano estratégico no combate à desinformação na vacinação. Foram realizadas chamadas para áreas diversas do governo de (Ministério da Saúde, Advocacia Geral da União-AGU, Ministério da Justiça, Ministério da Gestão e da Informação, Ministério da Ciência e da Tecnologia, Ministério das Comunicações e Controladoria Geral da União), realizando reuniões com cada ministério, de acordo com os pontos que precisavam ser alinhados para se alcançar um trabalho integrado entre essas esferas.

Ferramentas de comunicação, até mesmo as mais informais, como o WhatsApp, estão sendo utilizadas para divulgar informações confiáveis de maneira simples e amigável, fácil de entender por gestores públicos com diferentes níveis de conhecimento nos seus temas de atuação. Também buscamos garantir a participação social através de pesquisas públicas e reuniões abertas na tomada de decisões.

Quais são os principais desafios que vê para incorporar sistematicamente as evidências no processo de tomada de decisões?

Alguns dos principais desafios que enfrentamos são a falta de dados confiáveis ​​e o acesso limitado a informações das plataformas digitais. O que temos são dados aproximados que indicam tendências gerais, mas não explicam os fenômenos na granularidade necessária para informar nossas políticas. Como se tratam de desafios contemporâneos, ainda há lacunas de informação. Não existem tantas experiências bem sucedidas, e há que se enfrentar ainda regimes anti-democráticos, que direcionam as políticas de maneira oposta ao que buscamos.

Além disso, há uma carência de financiamento para institucionalizar estruturas de apoio à tomada de decisões. Dentro do governo percebo uma fragmentação e dificuldade na organização, curadoria e análise da vasta gama de informações que recebemos quase todos os dias.


Que conselhos daria aos pesquisadores (as) e tomadores de decisão que pretendem melhorar o uso de evidências?

Para os pesquisadores, é fundamental construir uma rede de advocacy, conectando-se a organizações que possam impulsionar as informações mais relevantes aos tomadores de decisão de forma personalizada a suas demandas. É importante frisar isso: a entrega das evidências deve ser adaptada ao público-alvo, evitando relatórios padronizados e que não dialoguem com quem precisa tomar as decisões a partir deles..

Quanto aos tomadores de decisão, é essencial garantir canais para que as evidências cheguem a quem precisa e em tempo ótimo. É também preciso capacitação para que as evidências sejam processadas de maneira ótima.

Traduzir as informações para facilitar a compreensão e ação é crucial para garantir que as evidências tenham influência e incidência, especialmente em um contexto em que há disseminação ampla de desinformação.


Samara Castro

Email: samara.castro@presidencia.gov.br
LinkedIn: https://www.linkedin.com/in/samaramcastro/

Entrevista com Cristián Mansilla

Nesta conversa, fizemos três perguntas sobre sua experiência como intermediador do conhecimento na interface ciência-política, como o uso de evidências mudou após a pandemia do COVID e possíveis oportunidades para avançar no uso de evidências na América Latina e no Caribe. Boa leitura !

Hub LAC: Que experiência do Chile foi importante para você trazer para o Canadá?

Cristián Mansilla: Acho que nos acostumamos com um aprendizado Norte-Sul. Mas o Sul global tem muito a contribuir para isso. No Chile , passamos décadas tentando promover esse tema [PIE] como país, pelo menos no setor da saúde. É algo de que devemos nos orgulhar e que, sem dúvida, muitos países do Norte global poderiam levar como aprendizado e experiência a seguir.

HL: Como foi a experiência de formar a Unidade de Evidências do Ministério da Saúde (MINSAL)? Você acha que pode ser replicado em outros países ou é muito particular da cultura institucional do Chile?

CM: Estou convencido de que isso existe em muitas partes do mundo, existem muitos mecanismos para aproximar o trabalho de pesquisa da tomada de decisão. O principal motor e a forma mais eficaz desse processo é o papel dos intermediários. Que é o papel desta unidade do MINSAL. [A Unidade] tem o papel de ser uma ponte entre o que está sendo produzido em pesquisa em nível global e em nível local, com as necessidades de evidência dos tomadores de decisão em um dado momento. Essa ponte, essa mediação, é o papel fundamental que facilita o uso virtuoso da evidência. 

Acho que esse é o grande desafio de todas as pessoas que fazem intermediação. Todas as pessoas que fazem algum trabalho específico de fornecer conhecimento para tomar decisões estão hoje em uma posição crítica para compreender como enfrentaremos a próxima crise. Como lidaremos com esta conjuntura crítica que o COVID nos deixa para nos fortalecermos.

HL: Como você acha que mudou o uso de evidências depois da pandemia?

CM: Estou otimista com isso. Acho que o termo “usar evidências para tomar decisões”, antes da pandemia, não era algo que todos nós dominamos ou que estivesse no nosso vocabulário, na nossa conversa diária. Durante a pandemia e depois da fase mais aguda, ele se democratizou um pouco. 

Os cidadãos [agora] têm alguma opinião sobre o quanto os tomadores de decisão estão usando conhecimento, se estão ouvindo a ciência para tomar decisões. Isso não acontecia antes. Agora tem prestação de contas (…) Acho que hoje estamos em um momento crítico [critical juncture]. Podemos aproveitá-lo ou não. Podemos evitar que a próxima pandemia ou a próxima crise seja como a que acabou de acontecer.

Entrevista com Jorge Barreto

Conversamos com o Professor Jorge Barreto, que teve uma participação fundamental na concepção do HubLAC e atualmente compõe o nosso Conselho de Especialistas.

Jorge Barreto é pesquisador da Fiocruz Brasília há 8 anos. Antes, coordenou a Gestão do Conhecimento do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde e foi Secretário de Saúde em Piri-Piri/Piauí, onde possivelmente foi criado o primeiro núcleo de evidência do mundo em nível local. Paralelamente, ele exerce as funções de professor e pesquisador em universidades.

Nessa nossa primeira conversa, fizemos duas perguntas ao Jorge Barreto e apresentamos a seguir alguns dos principais pontos das suas respostas. A entrevista completa, com 32 minutos, pode ser assistida aqui. Boa leitura e audição!

Hub LAC: Por que as PIE são importantes e como podem afetar as pessoas em nossa região? Qual é a importância de conscientizar e mobilizar em torno das PIE?

Jorge Barreto: As PIE são um processo sistemático que ajuda que a tomada de decisão seja mais inclusiva quando se reduz  a assimetria de informação, a qual atrapalha a comunicação entre os três eixos em torno da discussão: os que sofrem o problema, os que causam o problema e os que enfrentam o problema. Esses processos melhoram o exercício da cidadania, melhoram a democracia no sentido prático, porque processos participativos levam a decisões mais coerentes e mais capazes de serem implementadas e produzirem bons resultados.

Por isso as PIE são importantes porque melhoram o processo de tomada de decisão e acima de tudo os resultados das políticas (…), mas isso é um processo e como a nossa institucionalidade ainda é muito frágil temos sempre que recomeçar o trabalho, o que é bastante comum nesta área. 

HL: Como você vê o impulso atual para a construção de redes na ALC em torno das PIE e qual o papel do Hub LAC?  

JB: Todos os países do mundo hoje têm presença nesta discussão e na América Latina e no Caribe  isto não é diferente. Tem um campo diversificado de atores. A saúde liderou o processo, mas já se vê a discussão em várias áreas, como na educação, fortemente, na segurança pública, na assistência social… Se hoje ainda não há formalmente uma rede constituída, temos todas as condições para isto e é aí que o Hub entra, no sentido de catalisar oportunidades e não deve e não pode ser a única iniciativa.

Hoje, na América Latina e o Caribe, o ambiente está favorável como nunca e isto faz parte do processo de amadurecimento da discussão social sobre evidências. O Hub LAC tende a ser inovador por ser uma rede de redes e por ter a visão setorial de áreas que compartilham determinantes, uma conjuntura imersa em uma mesma realidade, e isso nos leva ao potencial de aprendizagem mútua entre esses setores, proporcionada pelo Hub. 

Trabalhando junto se aprende muito mais e mais rápido e estas duas questões colocam o Hub em uma posição privilegiada globalmente porque hoje ainda não existe uma experiência similar e este movimento de intercâmbio é quase uma consequência do que aconteceu até aqui e preparou o caminho para este tipo de rede. 

O Hub LAC é este fenômeno que tem uma liderança  pioneira, que não é concentrada, há uma distribuição da horizontalidade que favorece que mais pessoas se juntem a ele e ela se nutre e vai crescendo em tamanho e maturidade.

Relatório da Oficina (ES)

Relatório da Oficina (ES)

Relatório da Oficina

Análise de ecossistemas de evidências em saúde, educação e segurança na América Latina e no Caribe: Caso Brasil