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Sinergia entre academia, cidadãos e tomadores de decisão para a promoção e o uso de evidências na Colômbia
Esta entrevista faz parte da série “Voices of Evidence Users”, que oferece perspectivas valiosas de pessoas que usam evidências na tomada de decisão – uma colaboração entre Hub LAC e On Think Tanks. Nesta conversa, o HubLAC entrevista Carlos Castaneda sobre o papel e os mecanismos de uso e geração de evidências na Colômbia.
Carlos é economista pela Universidade de Antioquia, possui mestrado em economia pela Universidade de Los Andes e mestrado em Políticas Públicas e Sociais pela Universidade Pompeu Fabra. Atualmente é Diretor de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas do DNP – Departamento Nacional de Planejamento da Colômbia.
Quais são as questões ou problemas prioritários na sua organização?
As questões prioritárias são a avaliação de programas estratégicos vinculados ao Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) do país. Precisamente, uma das responsabilidades do Departamento Nacional de Planeamento (DNP) é elaborar este plano em conjunto com o Ministério das Finanças e os restantes setores do Governo Nacional.
Precisamente, o DNP definiu cinco linhas estratégicas e duas linhas transversais nas quais acreditamos que o país deve apostar para o desenvolvimento a médio e longo prazo, estas linhas são: 1) Gestão do território em torno da água com justiça ambiental: alterações climáticas, 2) eixo de segurança humana e justiça social, 3) direito humano à alimentação (transformação do sector agrícola, produção alimentar e segurança alimentar), 4) transformação produtiva, internacionalização e ação climática e 5) convergência regional. Tudo isto está enquadrado em dois temas transversais: paz abrangente e estabilidade macroeconómica. Também trabalhamos no âmbito da Agenda 2030 dos ODS.
Qual o papel que as evidências científicas desempenharam na abordagem destes problemas ou questões prioritárias, e que parcerias ou sinergias apoiaram ou permitiram este processo?
Um exemplo concreto do uso de evidências tem sido o uso de mapas de lacunas de evidências para identificar quais ações funcionaram no mundo em relação aos programas de renda cidadã. Menciono isto porque a Colômbia pretende migrar de transferências condicionais de dinheiro para estratégias de renda incondicional. Esta é uma das formas de disponibilizar evidências aos decisores em programas futuros.
Outro exemplo é o programa “Mi casa ya”, um programa habitacional que subsidiava pessoas de classe média e média baixa para que pudessem obter habitação. Fizemos uma avaliação de impacto há cerca de dois anos e os resultados dessa avaliação permitiram ao Ministério da Habitação tomar decisões que permitiram a reestruturação do programa.
Quanto aos tipos de evidências, estas podem ser diferentes dependendo do grau de maturidade dos programas. O que fazemos é tentar ser inovadores na forma como fornecemos ou transmitimos evidências aos decisores, por vezes um mapa de evidências é mais útil, por vezes um infográfico, vídeo entre outros.
Toda a evidência que geramos é levada aos órgãos de decisão, aos conselhos de ministros e aos comitês que gerem alocação de orçamento a médio prazo, onde é definido o orçamento alocado a cada setor.
Trabalhamos em várias etapas para identificar onde as evidências são necessárias e contamos, como mencionado acima, com as diferentes agências dos ministérios e com empresas de consultoria e instituições nacionais como Fedesarrollo, think tanks, e a Universidade Nacional e Javeriana da Colômbia. Também fazemos parcerias com agências internacionais como The Global Evaluation Initiative, Universidade de Berkeley, Universidade de Toronto e professores associados à Universidade de Chicago.
Relativamente ao envolvimento da perspetiva dos cidadãos, temos as enquetes de percepção cidadã, que são realizadas anualmente, em que procuramos conhecer as perspectivas, outra fonte de evidências para guiar as ofertas do governo. Isso nos permite monitorar as lacunas entre o que o governo está oferecendo e o que a população está percebendo.
Tudo o que geramos é público, os cidadãos podem baixar relatórios, dados, pesquisas, etc., para replicar exercícios, ou aprofundar os resultados. Queremos que os cidadãos se aproximem e que o governo participe também.
Quais são os principais desafios e oportunidades que identifica para institucionalizar e incorporar sistematicamente evidências no processo de tomada de decisão?
Entre os desafios existentes, descobrimos que para desenvolver avaliações rigorosas precisaríamos de mais tempo do que realmente temos. Para acompanhar esse processo, procuramos ter um banco de dados para realizar os exercícios com rapidez. Nesse sentido, se não houver pesquisas acadêmicas, incorporamos ferramentas mais rápidas como o machine learning, que permite a geração de evidências em tempo hábil.
Outro desafio é que vimos que a utilização de provas é anedótica, uma vez que não existe uma medição sistemática da forma como são utilizadas. Estamos desenvolvendo um índice de uso de avaliação que nos permitirá medir como e quando as evidências que estamos gerando estão sendo utilizadas. Isto nos permite ver quando as recomendações são implementadas e como as mudanças estão ocorrendo.
Por outro lado, nem sempre existe vontade política entre os decisores; em outras palavras, as diretrizes de um programa podem não exigir que ele seja avaliado.
Outra grande preocupação é encontrar a melhor forma de comunicar os resultados das avaliações porque os documentos são muitas vezes demasiadamente extensos e correm o risco de não serem lidos. As evidências já demonstram, por diversas plataformas, que para atrair o público em geral é necessário contar com informações curtas e chamativas.
Entre as oportunidades, também contamos com ferramentas robustas e com qualidade técnica para informar e tomar decisões, que compartilhamos com países como Costa Rica e Peru para nos mantermos atualizados com o que está acontecendo nos países vizinhos.
E, finalmente, na Colômbia temos o CONPES 4083 de 2022 para o fortalecimento do uso e institucionalização de avaliações para a tomada de decisões. Isto nos dá o arcabouço legal que nos obriga a implementar todas as ações relacionadas às evidências e oferece uma visão geral do uso das evidências no país juntamente com ações de melhoria para consolidar nossa organização (SINERGIA).
Que conselho você daria aos pesquisadores e tomadores de decisão que desejam melhorar o impacto e o uso das evidências científicas nas decisões políticas?
O conselho aos pesquisadores consiste em facilitar avaliações para que as recomendações políticas possam ser utilizadas. É preciso utilizar mecanismos para comunicar o que há de mais relevante. Por exemplo, aconselha-se uma matriz para a utilização de recomendações para incentivar a apresentação dos resultados de uma forma clara e simples aos especialistas.
O conselho aos decisores é que compreendam melhor quais as avaliações e os diferentes tipos de evidências que estão sendo reportados. Por exemplo, 90% dos decisores afirmam frequentemente que o que necessitam é de uma avaliação de impacto e quando clarificamos em que consiste a avaliação, percebem que não precisam deste tipo de provas, mas de outros tipos de provas. Os decisores precisam estar mais bem informados sobre o método de avaliação que o seu programa exige, a fim de chegarem a um acordo comum com os responsáveis pela pesquisa. Por fim, é necessário mencionar a necessidade de estabelecer sinergias entre pesquisadores e decisores para discutir e analisar os diferentes tipos de evidências.
Contato:
cacastaneda@dnp.gov.co
Fortalecendo a democracia brasileira com políticas públicas digitais
Essa entrevista faz parte da série “Vozes de Usuários de Evidências”, que oferece valiosas perspectivas de pessoas que utilizam evidências na tomada de decisões – uma colaboração entre o Hub LAC e a On think tanks.
Nesta conversa, o Hub LAC falou com Samara Mariana de Castro, advogada com trajetória no campo do direito marcada pela atuação nas áreas de Direito Eleitoral e Partidário, Direito Digital, Privacidade e Proteção de Dados.
Em 2023, Samara assumiu a Diretoria do Departamento de Promoção da Liberdade de Expressão da nova Secretaria de Políticas Digitais da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (SECOM), onde tem a oportunidade de construir um ambiente de pioneirismo para informar com as melhores evidências disponíveis as políticas públicas digitais no Brasil. Nesta entrevista, ela discute avanços e desafios que ela e sua equipe têm enfrentado nesta trajetória.
Como tem se dado sua atuação e quais são os problemas prioritários da sua gestão enquanto diretora do Departamento de Promoção da Liberdade de Expressão da Secretaria de políticas digitais?
Na minha direção, lidamos com diversos desafios. Isso inclui apoiar a sustentabilidade do jornalismo em meio às mudanças na publicidade, regulamentar os serviços digitais enfrentando a desinformação e estimulando valores sólidos de liberdade de expressão para a era digital. Além disso, o departamento atua em um ambiente de pioneirismo, onde muitos problemas ainda não têm soluções evidentes. Somos uma Secretaria inédita e temos o desafio de estarmos em um ministério palaciano, ou seja, que não tem carreira ou servidores próprios. Nesse sentido, não trabalhamos com uma memória como outros ministérios, estamos criando nossa própria história agora.
A SECOM anterior estava no Ministério das Comunicações, não houve transição em áreas críticas, então estamos reelaborando uma nova estrutura. Nosso trabalho hoje também se contrapõe aos processos criados pelo governo anterior, que trabalhava em uma lógica de desinformação e desconfiança contra adversários e outros poderes, no arranjo que ficou conhecido na mídia como o ‘gabinete do ódio’. Nossos desafios não são específicos à realidade brasileira.
São desafios que governos democráticos pelo mundo todo estão enfrentando concomitantemente, sendo os assuntos novos e emergentes.
Qual o papel das evidências para resolver esses problemas prioritários? Como você coopera e busca apoio com centros de pesquisa e redes no governo e na sociedade civil para se informar melhor dos desafios e soluções a seu alcance?
As evidências desempenham um papel crucial na tomada de decisões. O governo depende delas para convencer legisladores em questões regulatórias, usando principalmente relatórios executivos, contendo pesquisas quantitativas e qualitativas. A busca ativa dessas evidências é feita em parceria com organizações da sociedade civil, academia e indústria, além da minha rede de contatos pessoais e de canais diretos com os poderes legislativo e judiciário. T
Também buscamos experiências internacionais, principalmente latinoamericanas e de outros contextos globais para criar políticas de publicidade institucional preocupadas em garantir um ambiente informacional íntegro e confiável, que não financie direta ou indiretamente conteúdos ilegais, perigosos ou desinformativos, garantindo isonomia e direitos.
Para isso, uma nova secretaria foi criada na SECOM, a Secretaria de Análise, Estratégia e Articulação (SEART), pensada para apoiar a tomada de decisões informada por evidências no que concerne ao tema das políticas digitais. Podemos dizer que também atuamos como um Hub de evidências para outros ministérios, coordenando ações interministeriais em questões específicas que necessitem da nossa colaboração.
Um exemplo prático recente de atuação da nossa equipe foi a criação de um plano estratégico no combate à desinformação na vacinação. Foram realizadas chamadas para áreas diversas do governo de (Ministério da Saúde, Advocacia Geral da União-AGU, Ministério da Justiça, Ministério da Gestão e da Informação, Ministério da Ciência e da Tecnologia, Ministério das Comunicações e Controladoria Geral da União), realizando reuniões com cada ministério, de acordo com os pontos que precisavam ser alinhados para se alcançar um trabalho integrado entre essas esferas.
Ferramentas de comunicação, até mesmo as mais informais, como o WhatsApp, estão sendo utilizadas para divulgar informações confiáveis de maneira simples e amigável, fácil de entender por gestores públicos com diferentes níveis de conhecimento nos seus temas de atuação. Também buscamos garantir a participação social através de pesquisas públicas e reuniões abertas na tomada de decisões.
Quais são os principais desafios que vê para incorporar sistematicamente as evidências no processo de tomada de decisões?
Alguns dos principais desafios que enfrentamos são a falta de dados confiáveis e o acesso limitado a informações das plataformas digitais. O que temos são dados aproximados que indicam tendências gerais, mas não explicam os fenômenos na granularidade necessária para informar nossas políticas. Como se tratam de desafios contemporâneos, ainda há lacunas de informação. Não existem tantas experiências bem sucedidas, e há que se enfrentar ainda regimes anti-democráticos, que direcionam as políticas de maneira oposta ao que buscamos.
Além disso, há uma carência de financiamento para institucionalizar estruturas de apoio à tomada de decisões. Dentro do governo percebo uma fragmentação e dificuldade na organização, curadoria e análise da vasta gama de informações que recebemos quase todos os dias.
Que conselhos daria aos pesquisadores (as) e tomadores de decisão que pretendem melhorar o uso de evidências?
Para os pesquisadores, é fundamental construir uma rede de advocacy, conectando-se a organizações que possam impulsionar as informações mais relevantes aos tomadores de decisão de forma personalizada a suas demandas. É importante frisar isso: a entrega das evidências deve ser adaptada ao público-alvo, evitando relatórios padronizados e que não dialoguem com quem precisa tomar as decisões a partir deles..
Quanto aos tomadores de decisão, é essencial garantir canais para que as evidências cheguem a quem precisa e em tempo ótimo. É também preciso capacitação para que as evidências sejam processadas de maneira ótima.
Traduzir as informações para facilitar a compreensão e ação é crucial para garantir que as evidências tenham influência e incidência, especialmente em um contexto em que há disseminação ampla de desinformação.
Nesta conversa, fizemos três perguntas sobre sua experiência como intermediador do conhecimento na interface ciência-política, como o uso de evidências mudou após a pandemia do COVID e possíveis oportunidades para avançar no uso de evidências na América Latina e no Caribe. Boa leitura !
Hub LAC: Que experiência do Chile foi importante para você trazer para o Canadá?
Cristián Mansilla: Acho que nos acostumamos com um aprendizado Norte-Sul. Mas o Sul global tem muito a contribuir para isso. No Chile , passamos décadas tentando promover esse tema [PIE] como país, pelo menos no setor da saúde. É algo de que devemos nos orgulhar e que, sem dúvida, muitos países do Norte global poderiam levar como aprendizado e experiência a seguir.
HL: Como foi a experiência de formar a Unidade de Evidências do Ministério da Saúde (MINSAL)? Você acha que pode ser replicado em outros países ou é muito particular da cultura institucional do Chile?
CM: Estou convencido de que isso existe em muitas partes do mundo, existem muitos mecanismos para aproximar o trabalho de pesquisa da tomada de decisão. O principal motor e a forma mais eficaz desse processo é o papel dos intermediários. Que é o papel desta unidade do MINSAL. [A Unidade] tem o papel de ser uma ponte entre o que está sendo produzido em pesquisa em nível global e em nível local, com as necessidades de evidência dos tomadores de decisão em um dado momento. Essa ponte, essa mediação, é o papel fundamental que facilita o uso virtuoso da evidência.
Acho que esse é o grande desafio de todas as pessoas que fazem intermediação. Todas as pessoas que fazem algum trabalho específico de fornecer conhecimento para tomar decisões estão hoje em uma posição crítica para compreender como enfrentaremos a próxima crise. Como lidaremos com esta conjuntura crítica que o COVID nos deixa para nos fortalecermos.
HL: Como você acha que mudou o uso de evidências depois da pandemia?
CM: Estou otimista com isso. Acho que o termo “usar evidências para tomar decisões”, antes da pandemia, não era algo que todos nós dominamos ou que estivesse no nosso vocabulário, na nossa conversa diária. Durante a pandemia e depois da fase mais aguda, ele se democratizou um pouco.
Os cidadãos [agora] têm alguma opinião sobre o quanto os tomadores de decisão estão usando conhecimento, se estão ouvindo a ciência para tomar decisões. Isso não acontecia antes. Agora tem prestação de contas (…) Acho que hoje estamos em um momento crítico [critical juncture]. Podemos aproveitá-lo ou não. Podemos evitar que a próxima pandemia ou a próxima crise seja como a que acabou de acontecer.
Entrevista com Jorge Barreto
Conversamos com o Professor Jorge Barreto, que teve uma participação fundamental na concepção do HubLAC e atualmente compõe o nosso Conselho de Especialistas.
Jorge Barreto é pesquisador da Fiocruz Brasília há 8 anos. Antes, coordenou a Gestão do Conhecimento do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde e foi Secretário de Saúde em Piri-Piri/Piauí, onde possivelmente foi criado o primeiro núcleo de evidência do mundo em nível local. Paralelamente, ele exerce as funções de professor e pesquisador em universidades.
Nessa nossa primeira conversa, fizemos duas perguntas ao Jorge Barreto e apresentamos a seguir alguns dos principais pontos das suas respostas. A entrevista completa, com 32 minutos, pode ser assistida aqui. Boa leitura e audição!
Hub LAC: Por que as PIE são importantes e como podem afetar as pessoas em nossa região? Qual é a importância de conscientizar e mobilizar em torno das PIE?
Jorge Barreto: As PIE são um processo sistemático que ajuda que a tomada de decisão seja mais inclusiva quando se reduz a assimetria de informação, a qual atrapalha a comunicação entre os três eixos em torno da discussão: os que sofrem o problema, os que causam o problema e os que enfrentam o problema. Esses processos melhoram o exercício da cidadania, melhoram a democracia no sentido prático, porque processos participativos levam a decisões mais coerentes e mais capazes de serem implementadas e produzirem bons resultados.
Por isso as PIE são importantes porque melhoram o processo de tomada de decisão e acima de tudo os resultados das políticas (…), mas isso é um processo e como a nossa institucionalidade ainda é muito frágil temos sempre que recomeçar o trabalho, o que é bastante comum nesta área.
HL: Como você vê o impulso atual para a construção de redes na ALC em torno das PIE e qual o papel do Hub LAC?
JB: Todos os países do mundo hoje têm presença nesta discussão e na América Latina e no Caribe isto não é diferente. Tem um campo diversificado de atores. A saúde liderou o processo, mas já se vê a discussão em várias áreas, como na educação, fortemente, na segurança pública, na assistência social… Se hoje ainda não há formalmente uma rede constituída, temos todas as condições para isto e é aí que o Hub entra, no sentido de catalisar oportunidades e não deve e não pode ser a única iniciativa.
Hoje, na América Latina e o Caribe, o ambiente está favorável como nunca e isto faz parte do processo de amadurecimento da discussão social sobre evidências. O Hub LAC tende a ser inovador por ser uma rede de redes e por ter a visão setorial de áreas que compartilham determinantes, uma conjuntura imersa em uma mesma realidade, e isso nos leva ao potencial de aprendizagem mútua entre esses setores, proporcionada pelo Hub.
Trabalhando junto se aprende muito mais e mais rápido e estas duas questões colocam o Hub em uma posição privilegiada globalmente porque hoje ainda não existe uma experiência similar e este movimento de intercâmbio é quase uma consequência do que aconteceu até aqui e preparou o caminho para este tipo de rede.
O Hub LAC é este fenômeno que tem uma liderança pioneira, que não é concentrada, há uma distribuição da horizontalidade que favorece que mais pessoas se juntem a ele e ela se nutre e vai crescendo em tamanho e maturidade.
Relatório da Oficina (ES)
Relatório da Oficina (ES)
Relatório da Oficina
Análise de ecossistemas de evidências em saúde, educação e segurança na América Latina e no Caribe: Caso Brasil
Entrevista com Kershelle Barker
Ouvindo os parceiros: Caribbean Centre for Health Systems Research and Development (CCHSRD)
Apresentação
O Caribbean Centre for Health Systems Research and Development (CCHSRD) é um Centro de Pesquisa da Universidade das Índias Ocidentais, localizado em St. Augustine, Trinidad e Tobago (T&T). O Centro foi estabelecido em 2018 para realizar um programa de trabalho em Pesquisa de Políticas e Sistemas de Saúde (HPSR), com o objetivo de abordar os urgentes problemas de políticas e sistemas enfrentados pelos tomadores de decisões na região do Caribe. O Centro se envolve em diversas atividades, com quatro funções principais: condução de pesquisas, tradução do conhecimento, treinamento e desenvolvimento de recursos humanos em saúde, e engajamento cidadão. Para esta publicação, entrevistamos Kershelle Barker, Pesquisadora Júnior em Sínteses de Evidências no CCHSRD.
1. Hub LAC: Conte-nos um pouco sobre o Caribbean Centre for Health Systems Research and Development e suas áreas de pesquisa focadas em formulação de Políticas Informadas por Evidências.
K.B: Com a missão de gerar e facilitar o uso de evidências de pesquisa para fortalecer os sistemas de saúde e os processos de formulação de políticas, grande parte de nosso trabalho se concentra em desenvolver a capacidade individual e institucional na formulação de Políticas Informadas por Evidências (PIE). Para esse fim, o CCHSRD conduziu Avaliações de Necessidades com os Ministérios da Saúde; Trabalho; Planejamento e Desenvolvimento; Desenvolvimento Social e Serviços Familiares; e Esporte e Desenvolvimento Comunitário em Trinidad e Tobago, para compreender seus processos de formulação de políticas, o uso de evidências e suas necessidades de treinamento em PIE.
Posteriormente, organizamos exercícios de definição de prioridades e workshops para desenvolver a capacidade em PIE, além de fornecer orientação e mentoria para funcionários selecionados como parte de dois grandes projetos – o programa de Mentoria do Centro de Conhecimento para Política do WHO Building Institutional Capacity for HPSR and Delivery Science e o projeto Partnership for Evidence and Equity in Responsive Social Systems (PEERSS).
Além disso, em 2020, o CCHSRD lançou com sucesso o seu Programa de Treinamento de Bolsas de Estudo “Evidence to Policy”, com o objetivo de promover a formulação de políticas e práticas baseadas em evidências, desenvolvendo a capacidade tanto dos formuladores de políticas (para utilizar evidências) quanto dos pesquisadores (para apoiar o processo de formulação de políticas).
O Centro produziu/co-produziu diversos produtos de tradução de conhecimento para informar ações políticas e programáticas multissetoriais. Isso inclui seis (6) Resumos de Evidências para Políticas e quatro (4) Resumos de Resposta Rápida sobre prioridades em saúde (recursos humanos, serviços de saúde sexual e reprodutiva, saúde mental e prestação de serviços) e em outros setores sociais (trabalho, educação, assistência social e desenvolvimento comunitário). Também organizamos uma reunião de disseminação de interessados e duas mesas-redondas com partes interessadas, e estamos engajados em atividades de acompanhamento e advocacia para incentivar a adoção das evidências.
2. Hub LAC: Que esforços regionais específicos o CCHSRD empreendeu para melhorar a tomada de decisões no contexto do Caribe? Poderia dar alguns breves exemplos para ilustrar?
K.B: A segunda turma do Programa de Treinamento de Bolsas de Estudo “Evidence to Policy” do CCHSRD foi aberta para tomadores de decisão no Caribe. Um bolsista da Guiana concluiu com êxito o programa, e foi produzido um Resumo de Evidências para Políticas com o objetivo de melhorar o acesso, a qualidade e a equidade na prestação de serviços de saúde em Guiana. Esse Resumo continha evidências locais sobre o problema, bem como elementos de políticas propostos para abordar a questão, embasados nas melhores evidências disponíveis. Embora o programa de bolsas de estudo tenha sido encerrado desde então, temos a intenção de continuar envolvendo-se com as partes interessadas em Guiana, para fornecer treinamento e capacitação em habilidades e processos de formulação de políticas baseadas em evidências.
Em 2022, o CCHSRD colaborou com o Hub de Evidências da América Latina e Caribe (Hub LAC) para sediar um workshop de aprendizado virtual. Os objetivos foram identificar as necessidades locais e regionais de formulação de políticas baseadas em evidências; conectar as principais partes interessadas de três países caribenhos (Trinidad e Tobago, Barbados e Jamaica); e gerar conhecimento sobre a formulação de políticas baseadas em evidências na região. Este workshop proporcionou insights valiosos sobre as barreiras e facilitadores comuns para a formulação de políticas baseadas em evidências no Caribe, bem como os fatores necessários para construir um forte ecossistema de evidências.
Além disso, o CCHSRD abriga a Comunidade de Prática para Pesquisa em Política e Sistemas de Saúde (CoP4HPSR) do Caribe, que é uma rede de 135 pesquisadores, profissionais de saúde, formuladores de políticas e outras partes interessadas de 14 países, comprometidos em fortalecer a capacidade de pesquisa em política e sistemas de saúde na região do Caribe. Através do compartilhamento de informações e do diálogo frequente sobre tópicos relacionados à pesquisa em política e sistemas de saúde, pretendemos continuar fortalecendo a compreensão dos tomadores de decisão e pesquisadores sobre o papel crucial da evidência na formulação de políticas e tomadas de decisões no Caribe.
3. Hub LAC: Na sua opinião, que contribuições significativas um Hub colaborativo regional pode fazer para atender às necessidades de tradução de conhecimento em um ecossistema de formulação de Políticas Informadas por Evidências em nossa região da América Latina e Caribe (LAC)?
K.B: Um Hub colaborativo regional é importante para promover uma compreensão compartilhada e o comprometimento com a utilização de evidências na tomada de decisões na região da América Latina e Caribe (LAC). Desafios comuns que enfrentamos regularmente, os quais dificultam esse esforço, incluem uma desconexão entre os resultados de pesquisas e as necessidades dos formuladores de políticas; e uma falta de dados e evidências contextualizadas para informar políticas, programas ou intervenções nos países.
Ter um órgão regional dedicado a preencher essa lacuna e gerar produtos e serviços de tradução de conhecimento adaptados à região da LAC resultaria em fornecer aos formuladores de políticas/tomadores de decisões evidências oportunas e relevantes para informar ações que têm mais probabilidade de: (i) ser viáveis e fazer um melhor uso dos recursos já limitados; (ii) superar potenciais barreiras específicas do contexto para a implementação; e, portanto, (iii) alcançar impactos positivos, como a melhoria da saúde e outros resultados da população.
A colaboração em nível regional também pode ajudar a aumentar o envolvimento dos tomadores de decisão no processo de pesquisa/evidência-política; e fortalecer as relações entre os países, para unir recursos e esforços a fim de abordar prioridades regionais de saúde e sociais.
Entrevista com Janessa Oliveira
Ouvindo os parceiros: Women and Global Health
Apresentação
Iniciando sua jornada em 2015 como uma Organização sem Fins Lucrativos, hoje a Women in Global Health representa um movimento global de atuação e liderança para a promoção da equidade de gênero na saúde. Atualmente, a organização conta com 47 capítulos em 43 países, cerca de 5.500 membros e 100.000 apoiadores em mais de 100 países, estabelecendo uma ampla rede de aliados em prol do fortalecimento da liderança igualitária de gênero na saúde global. Para este boletim, conversamos com Janessa Oliveira, doutora em Saúde Pública, que atualmente integra a coordenação do capítulo brasileiro da Women in Global Health.
Hub LAC: A WGH possui ações tanto em advocacy, como enquanto plataforma para diferentes iniciativas e parcerias. Nesse sentido, você poderia nos dar um panorama concreto de iniciativas que vocês desenvolvem?
J.O: A WGH vem atuando há oito anos através de diversas iniciativas para promover a igualdade de gênero na área da saúde. A área de advocacy e articulação com organizações com influência em cada território se mostrou uma parte crucial da nossa atuação. Dessa forma, os capítulos regionais e nacionais são estimulados a buscar alianças e contatos para implementar ações nessas vertentes que possam gerar mudanças a nível local. Além disso, a organização promove eventos que mostram experiências bem-sucedidas em outros países, para que outros capítulos possam se inspirar. Ademais, a WGH compreende a relevância em participar de eventos e conferências a nível global, como forma de incentivar a representatividade das mulheres nestes espaços, participando dos debates para promover a redução das desigualdades de gênero na área da saúde.
2. Quais são as principais evidências que apoiam a compreensão de vocês sobre a natureza e a magnitude dos desafios na igualdade de gênero na saúde?
J.O: Atualmente nos apoiamos em dados secundários fornecidos principalmente pelo CNES – Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde, e estamos trabalhando em estabelecer alianças locais para coletar e compreender melhor o perfil demográfico das profissionais de saúde no Brasil. Para investigar a desigualdade de remuneração, estamos em contato com os conselhos profissionais para obter dados assertivos. Para gerar conhecimento sobre questões relacionadas a violências, o capítulo brasileiro investirá na busca de dados com os conselhos profissionais e na aplicação de um inquérito. Para maximizar a adesão a esta pesquisa, visto que é um tema sensível, estamos formando alianças para disseminar o questionário em todo o Brasil e obter uma amostra mais representativa.
Hub LAC: 3. A WGH hoje conta com uma ampla rede global, estendida pelos cinco continentes. Como são engendradas estas iniciativas, considerando as particularidades de cada região ou mesmo entre os países?
J.O: A Women in Global Health conta com uma gestão que busca criar mecanismos de colaboração regional e global entre os capítulos. Para tal, existem diversos Hubs regionais onde os capítulos podem colaborar e alinhar prioridades, organizar atividades conjuntas, entre outros. Também existem reuniões globais mensais em que os capítulos engajam, compartilham suas atualizações e discutem diversos temas atuais no escopo do advocacy para a saúde global.
Para promover a troca de experiências e ideias, a WGH global também busca organizar eventos e atividades com o intuito de mostrar como diferentes temas se dão nas diversas regiões. Um exemplo desse tipo de atividade foi a organização de quatro Assembléias regionais (Townhalls) sobre o tema de Exploração, abuso e assédio sexual (SEAH) na área da saúde, para o qual foram convidadas representações de governos, ONGs e ativistas para discutir questões propostas pela WGH sobre assédio e violência na saúde global.
Durante esses eventos (que foram realizados para as regiões da África Oriental e Meridional, Ásia, América Latina e Caribe, África Francófona), iniciativas interessantes foram apresentadas, ampliando a troca de ideias e experiências entre representantes desses setores em diversos países. O capítulo brasileiro foi um dos co-sponsors do evento para a região das Américas e o Caribe. Vejam aqui os resultados dos eventos.
Outra iniciativa importante na qual estamos trabalhando, está mais alinhada com a nova proposta da WGH, lançada no final do ano passado, que tem foco na Cobertura Universal de Saúde. Recebemos financiamento para projetos nessa linha e nossa primeira iniciativa será trabalhar com podcasts. Acreditamos que os podcasts são uma excelente ferramenta para disseminar conteúdos de qualidade em áreas remotas, onde a cobertura de internet é limitada, como é o caso da região amazônica. Queremos difundir conteúdos que promovam a liderança feminina e melhorem a qualidade da assistência à saúde nessas áreas.